a3. direcção braga-porto.
numa passagem superior ("ps" para engenheiros civis do ramo de estruturas especializados em obras de arte), um cartaz.
no pano branco, rectangular, colocado na horizontal, letras gordas e negras:
«desculpe vânia.
mário»numa 'ps' mais à frente, junto à saída para o hospital de s.joão, o mesmo cartaz. quanto arrependimento!
toda e qualquer suposição corre sérios riscos de atirar totalmente ao lado. mas não deixa de ser imediato questionar: "quem são? que se terá passado? que crime cometeu o mário? quão irredutível é a vânia?"
e há um pormenor digno de nota, que não deixa de ser curioso: o arrependido trata a presumível ofendida por você.
isto faz-me lembrar um episódio de faculdade, em que um rapazito apaixonado decidiu colar posters da
ex- (por motivos que me ultrapassam) - namorada, com pedidos de desculpa e declarações de amor por todo o lado, a acompanhar uma grande e nítida foto dela. este cartaz de autêntica campanha de reconquista repetia-se nas paredes do edifício (público, diga-se) frequentado por ela e por mais 100 ou 200 pessoas que a conheciam. não posso ser precisa quanto ao resultado, mas tenho a vaga ideia que ela ficou fula. muito fula. lembro-me também de pensar que se fosse comigo...
estas coisas ultrapassam-me. deveras. afinal o que leva as pessoas a decidirem-se por este tipo de manifestações públicas de afecto, arrependimento ou reconhecimento?
permitam-me meter tudo no mesmo saco e constatar: é vê-las em paragens de autocarros, nas costas dos bancos das carreiras; é ouvi-las no éter, nos "discos pedidos" das rádios festivaleiras que os motoristas sintonizam; é lê-las no wc, no elevador, em muros meio desfeitos e casas abandonadas; é acompanhá-las nos rodapés da praça da alegria e do portugal no coração, em programas com maus cenários e apresentadoras execráveis, contudo incrivelmente interessadas nos desencontros dos outros...
pergunto-me: será esta opção um último reduto? que garantias efectivas oferece no que ao resultado diz respeito? e já que a mensagem é tornada pública, o resto do povo pode interferir?